Escrevo estas páginas como forma de me liberar da culpa que tanto me atormenta. Tomei uma decisão que considero correta, porém... Não sei. Talvez a maior parte da sociedade não a considere assim. Por este motivo escrevo estas linhas, tentando limpar minha consciência. O que fiz? Antes de dizê-lo preciso contar toda a história... Colocar minhas ações em um contexto. Talvez assim eu seja absolvido por vocês, meus diletos leitores... Ou não.
Preciso começar do começo, bem do começo, para que entendam e procurem sentir minhas emoções, meu estado de espírito em cada momento. Que experimentem passar pelo que passei e procurem compreender porque tomei a decisão que tomei.
O ano era 1984. Eu havia passado no vestibular para o curso de Análise de Sistemas na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a PUCCAMP. Lembro bem do meu primeiro dia como calouro, aquele mundaréu de gente sorrindo, gritando e eu procurando minha classe nas listas de papel, pregadas no concreto à vista dos edifícios do campus.
Entrei em minha classe. Havia muitos alunos e, tímido como sempre fui, sentei-me próximo aos fundos da sala, onde havia alguns sujeitos estranhos que riam muito. Uma jovem bonita trajando apenas camiseta branca e jeans entrou e começou a encher a lousa de fórmulas e uma lista de livros que deveríamos comprar.
- Aí, gente, sou a Laura, professora de Cálculo I de vocês. Estudem essas funções trigonométricas porque a prova é segunda que vem, ah, e também comprem esses vinte livros que listei aqui.
Começei a suar frio. Eu estava esperando já começar com aulas de programação de computadores e aquela professora, pouco mais velha do que eu, enche a lousa e manda comprar um monte de livros! E dinheiro? Onde eu ia achar dinheiro para tanto livro? E prova na próxima segunda? Minha vontade naquele momento era ir embora dali, sair correndo.
- Agora vamos passar recolhendo dinheiro para a apóstila.
Entreguei a grana que tinha para almoçar para pagar a maldita apóstila e então a tal professora apontou os alunos do fundo da classe, próximos à mim, que riam se parar:
- Estes sujeitos aí estão fazendo já à terceira DP comigo. Vocês não vão poder mais dormir à noite, vão é estudar, estudar e estudar, eu sou rigorosa, entenderam?
Uma caloura de feições orientais (aliás, a maioria dos alunos de minha classe naquela época era de orientais) ergueu a mão. Laura colocou as mãos na cintura e ralhou:
- Está pensando que aqui é o primário? O que você quer, menina?
- Eu... Eu queria saber o que é DP, professora...
- Quero que me chame de Doutora Laura, entendeu bem, aluna fraca da cabeça? E DP é Dependência, reprovação, coisa que tenho certeza você vai ter em minha classe!
O pessoal lá de trás caiu na gargalhada enquanto eu e a maioria da frente até tremia de medo. Aquilo era a faculdade?
- Mas... Mas eu não fiz nada professora!
- Sua imbecil e mentecapta! Já falei para me chamar de Doutora Laura!
Foi então que aconteceu um evento tão fantástico e precioso, que guardo com prazer em minhas lembranças, e que embora tenha se passado em minutos, levou horas em minha mente. Uma caloura levantou-se irritada e levantou a voz:
- Vamos parar com essa palhaçada, que de doutora você não tem nada, veterana!
Ela era maravilhosa, linda, uma garota em seus dezenove ou vinte anos emergindo, aflorando como mulher e seus cabelos esvaçoavam enquanto falava. Seus olhos castanhos tinham um brilho que jamais vira na vida. Ela voltou-se para nós, pobres colegas calouros.
- Vocês não vêem que tudo isso é uma encenação? Que o dinheiro que pediram para apóstila na verdade é para a cerveja desses safados no fundo que não passam de veteranos abusados passando um trote?
Um rapaz loiro, com o rosto coberto de cicatrizes de espinhas que deviam ter existido em seu rosto durante sua adolescência, subiu em uma cadeira:
- Ora, fique quieta sua bixa abusada. Quer ir para a diretoria levar umas palmadas do diretor? Eu ajudo a bater! – E riu junto com os companheiros hienas até que um deles até capotou entre as carteiras.
Eu estava evidentemente apaixonado, se é que alguém fica apaixonado apenas por olhar para outro alguém. Aquele garota era sensacional, e não apenas eu, mas os meus companheiros bixos e aqueles vets também notaram. E todos os rapazes (e porque não dizer algumas garotas também?) acompanharam ela sair, esplêndida, mas pisando duro, de nossa classe, daquela pseudo-aula.
Após aquele momento uma discussão começou ente os calouros e os veteranos, os calouros querendo reaver o dinheiro e alguém já chegando com uma tesoura para nos tosar. Tentei escapar, mas foi em vão. Não pelo fato que iam cortar-me os cabelos, que na verdade nunca ficavam direito em minha cabeça, mas para ir atrás daquela morena de olhos castanhos sensacional, queimada de sol e com um corpo com curvas tão bem feitas que até hoje sonho com elas.
domingo, 26 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Viagem - Crônica de minha nova viagem à Paris
Estou indo para Paris. Embarco amanhã. Postarei e darei "twits" sobre como está indo minha viagem. Durante a viagem continua escrevendo meu livro. Darei pistas sobre ele. Se será um "best-seller"? Não... Apenas escrevo o que eu gosto. Abraços à todos
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