A
vida é cheia de altos e baixos. Muitas vezes passamos por um dia ruim e achamos
que nossa vida é toda errada e tudo está contra nós. Então, no dia seguinte,
vivemos fatos incríveis e maravilhosos e nos sentimos no topo do mundo.
Eu sempre tive uma visão otimista
das coisas. Sou aquele que olha um copo pela metade e o vejo meio cheio. Sei
que serei capaz de enchê-lo. Porém existem pessoas tão pessimistas que afirmam
categoricamente que está meio vazio e que vão morrer de sede em breve! Pior,
nada fazem para melhorar a situação do copo (ou delas mesmas).
No entanto não sou de ferro, então
vou contar o que aconteceu comigo em um dia ruim, que me deixou pensando que o
Azar (com A maiúsculo) existe mesmo - ou o demo ou o mau olhado, sei lá-, abalando
assim meu otimismo em relação à vida.
Foi no dia em que decidimos trocar o
carro da minha mulher e fazer “troca com troco”, pois precisávamos de dinheiro. Após
escolhermos o modelo na concessionária e aceitarmos a oferta feita pelo nosso carro
antigo, ficamos de voltar na manhã seguinte para a troca e retirada do veículo
novo.
A manhã seguinte estava bonita com
algumas nuvens. Acordamos contentes com a perspectiva da troca, apesar do carro
antigo nunca ter dado problema. Eis que na hora de ligá-lo... Ele não pega.
Será que carros pensam? Será que ele não queria nos deixar?
Filosofia barata à parte, após
muitas tentativas, minha mulher saiu com o meu carro e trouxe um mecânico que
entendia de elétrica. Com a ajuda de um cabo fizemos uma “chupeta” para tentar
ligar o automóvel da minha mulher. Nada. Muitas tentativas depois, e o tempo
fechando, o mecânico afirmou que a bateria arriou de vez e que era necessário
trocá-la. E nós precisando de dinheiro, íamos trocar de carro naquele dia! Bom,
paguei uma nova.
O mecânico foi com minha mulher no
meu carro pegar a bateria enquanto eu olhava desolado o veículo dela com o capô
aberto. Começou a chover. Que merca! Pensando ser igual ao meu automóvel,
fechei o capô forçando achando que tinha um amortecedor. Não tinha. Era uma
vareta como na maioria dos carros.
Resultado:
amassei a vareta e o capô. Será que demônios existem ou o maldito do carro não
queria ir embora de jeito nenhum? E começou a chover forte.
Eu
ensopado, motor molhado e carro amassado. É o fim dos tempos. Não era.
Bateria
trocada, carro andando, seguimos até uma funilaria, pois não podia entregar o
carro daquele jeito. Mais dinheiro gasto. Finalmente levamos o dito cujo à
concessionária.
Ninguém
para nos atender. Era horário de almoço, chovia, eu ensopado e não sabia se
chorava ou se mordia a língua.
Almoçamos
qualquer coisa. Voltamos e esperamos. Finalmente a vendedora nos recebeu.
Mostrou como funcionava o carro novo e avisou que tinha pouca gasolina e que
tínhamos que abastecer.
Garoava
e saímos de lá contentes. Mas alegria de pobre dura pouco. Fomos abastecer e...
A portinhola do bocal não abria! Era elétrica e não estava funcionando!
Íamos
ligar na concessionária, mas então batia às 18:00, uma sexta-feira, não havia
mais ninguém lá. E agora? Nada de poder abastecer.
Rezando
para o carro chegar em casa e esperarmos a segunda-feira, pegamos a avenida,
uma subida. Adivinha o que aconteceu? Isso mesmo. Acabou a gasolina.
Sexta-feira,
avenida movimentadíssima, 18:00. Carro parado na esquerda, sem gasolina. Chuva.
Se eu pudesse, me teletransportava para Marte.
Creio
que nunca recebi tanto xingo como naquele dia. Coitada da minha pobre mãezinha,
que Deus a tenha. Bom, depois que parei de tremer, liguei “n” vezes na
concessionária até me atenderem. Era da oficina.
Muito
prestativos, dois sujeitos vieram até onde eu estava – ponto para a
concessionária. Porém, esperamos duas horas até eles chegarem - perdido por
cem, perdido por mil. E a chuva... Eu querendo mijar olhando aquela água toda
caindo...
Mais
umas duas horas para eles conseguirem destravar a portinhola. Dez da noite.
Chuva. Posto já tinha fechado. Medo de ser assaltado.
Eu
torcendo para dar meia-noite e aquele dia infeliz acabar, fui andando até o
próximo posto e... Dia dos infernos. Não abasteciam em garrafa PET. Era contra
a lei, diziam. E o que eu ia fazer?? Eles vendiam um vasilhame por uma grana.
Doido que estava, comprei o maldito. A troca com troco virou troca prejuízo
total.
Voltei.
Meia-noite e dez chegamos em casa. Foi o dia mais infeliz da minha vida,
tirando o velório da minha mãe.
Mas...
E existe sempre um “mas”. Existe sempre um dia após o outro. Na verdade, anos.
Dois anos depois daquele dia, episódio já um tanto esquecido, era uma quarta-feira,
eu cansado, dia chuvoso.
Um
“ping” na minha caixa postal e estava lá: delicioso e-mail dizendo que meu
cliente aprovara o orçamento e que a grana
já estava na conta. 4 dígitos.
O
que você faria em uma situação assim? Meu casamento não estava lá essas coisas.
Juntei A com B, comprei uma passagem de ônibus para sexta-feira com destino a
Santos e reservei um hotel. Fim-de-semana na praia. Só para duas pessoas. Nova
lua-de-mel.
Minha
mulher adorou a loucura e foi uma viagem tranquila.
Chegando
ao hotel, não achavam o meu nome! Aquele hotel era da mesma rede do que eu na
verdade fizera a reserva. Mas me confundira e alocara outro, que ficava perto
da rodoviária e não aquele de frente para o mar. O Azar teria voltado?
Não.
Além
de poder cancelar sem custo nenhum a minha reserva, com a alegação aceita de
que o site da rede de hotéis estava confuso (e estava mesmo), pude me hospedar
ali com um desconto incrível. Ponto para rede, ponto para mim.
Sábado.
Um dos dias mais felizes da minha vida. Sol, céu sem nuvens. Amor matinal – se
é que me entendem -, café da manhã magistral. Praia com pouca gente. Mar limpo
no Canal Três.
Nadamos
muito, a água estava quentinha e o camarão com preço justo. Cervejinha,
caipirinha, areia, beijos... A vida é bela.
Depois
de fazer amor e um longo banho no hotel, fomos passear ao entardecer de mãos
dadas. Encontramos um concerto de rock clássico de graça na concha acústica.
Podia estar melhor? Não creio. Foi sensacional. Esqueci de tudo, dos problemas,
das raivas, das coisas ruins.
Rock
melódico, lágrimas de prazer nos olhos, com a noite combinando, caindo devagar
e trazendo estrelas e uma Lua, bem, que me fez beijar minha mulher como nunca
antes.
Finalizamos
com um jantar fantástico num bar-boate, dançamos, retornamos cantarolando, fizemos
amor de novo, voltando a nos conhecer como na época em que éramos namorados.
Queria que aquele dia nunca terminasse.
Bem,
é isso. Um dia ruim, um bom. A vida é assim, cheia de altos e baixos.
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