quinta-feira, 15 de novembro de 2012


A Banda Mais Famosa do Planeta


Amanheceu com uma chuva fina e fria, contudo Scott Lorenzo sentia-se tão disposto e cheio de energia como sempre. Conhecia a sorte de John Morelli Braccelli e não seria uma chuvinha qualquer que atrapalharia mais um show da banda mais famosa do planeta.

- Ajudem-me aqui com esses amplificadores. – Lorenzo era especialista em P.A., coordenava toda a parafernália de áudio da banda, dos amplificadores Marantz ultra-pontentes aos mixers Galaxy que ficavam na “ponte de comando”, o pequeno estúdio que controlava toda a parte sonora e visual durante os shows.

Os operários, trinta ao todo, posicionavam caixas, colocavam microfones e pedestais, pedais para as guitarras e o baixo, conectavam plugs e puxavam a enorme fiação no gigantesco palco em São Paulo, no estádio do Morumbi. O pessoal da iluminação colocava as luzes enquanto a equipe de efeitos visuais testava os telões 3D, os jatos de vapos de gelo seco e os lasers. Várias explosões estavam preparadas, principalmente quando a banda principal tocasse uma música do AC/DC, “For Those About The Rock (We Salute You)”.

Os portões começaram a ser abertos por volta das 10:00, embora o show só começasse com as bandas de abertura às 17:00. Mesmo assim, os telões já começavam a exibir shows antigos e clips das bandas que iam se apresentar, até mesmo da principal, marcada para começar às 21:00.

O gramado foi sendo tomado às pressas e as tietes mais afoitas posicionaram-se grudadas na frente do palco que continha uma passarela na parte de baixo. Tribos de todas as idades sentavam-se nas arquibancadas, cerveja era vendida aos litros, cheiro de haxixe rondando o ar.

Scott Lorenzo almoçou rapidamente por volta das 13:30 e admirou-se ao ver o estádio totalmente lotado, com o pessoal cantando junto as músicas que apareciam em videoclips nos telões gigantescos de alta definição e com imagens 3D. Sua equipe já parava para um descanso. A primeira banda a abrir o megashow, a curitibana Os Catalépticos, já passava o som. O tempo começava a abrir e Lorenzo sorriu sabendo que faria uma noite deliciosa para a apresentação do Única.

17:00 em ponto e fogos anunciavam, ao cair da tarde, o início do que prometia ser um espetáculo fantástico e inesquecível. A adolescente feinha abraçava o pai tiozão que não parava de olhar a bunda da amiga gostosa da filha. O punk radical que odiava a banda principal confraternizava com o nerd que sabia todas as músicas de cor. A fã incurável abraçava o poster de John Braccelli já preparada para ficar nua na hora que ele passasse cantando pela passarela abaixo do palco. A romântica fanática abraçava o namorado desmiolado imaginando que quando se casassem ele seria como John, rico e famoso.

Os Catalépticos começaram a cantar “River of Blood”, mas foram recebidos com certa frieza pelo público. Mas eles melhoraram a partir de “One More Tattoo” e finalizaram o show às 18:30, no bis, com “Freaks”. Vlad, Gus e Cox foram muito aplaudidos e saíram satisfeitos do palco.
Às 19:00 entrou o AMP, banda de rock de Recife, arrasando com “Ensurdecedor”, que começou com explosões ao entardecer em São Paulo. Capivara pulava no palco com sua guitarra, dividindo os vocais com Djalma, em uma loucura que levou o público ao delírio. “Devil’s Prize” não ficou atrás, e o show continuou em um frenesi que parecia levar a multidão ao orgasmo. Saíram do palco após “Last Try”, e Scott Lorenzo, fazendo os últimos preparativos para a entrada do Única, sorriu sabendo que eles não eram nada perto da maior banda do planeta, mas tocaram bem. O público pediu bis e finalizaram o concerto com “Ataque dos Aliens”.

Chegara a hora do Única entrar. O público ficava cada vez mais agitado, a ansiedade crescendo, eles cantando músicas da banda após os telões silenciarem. O nervosismo tomou conta de Lorenzo, correndo como louco para a banda não atrasar. Os lasers não estavam sincronizados e o canal do baixo estava falhando. O computador de efeitos visuais foi reprogramado e o cabo do baixo foi trocado às pressas, e exatamente às 21:05 o Única estava à beira do palco, na escada, apenas aguardando a entrada triunfal.

Tudo ficou quieto. Até o público calou-se, a expectativa era imensa. Silvia engoliu seco pulando agitada,  Mário tremia de emoção, Jonas encoxou mais a namorada e Lilian tirou a franja dos olhos para ver melhor. Márcio caiu no gramado totalmente bêbado.

A conhecida imagem de um rosto estilizado surgiu em 3D, no meio do palco, projetada na cor verde em meio a densa fumaça de gelo seco. As mesmas palavras de sempre, que a vida vale a pena ser vivida e que todos deviam fazer amor o tempo todo, ditas em inglês com a voz grossa sintetizada de um apresentador famoso.

Depois uma enorme explosão. Fogos iluminaram a noite de São Paulo e o êxtase da platéia deu lugar ao Única: o performático John Braccelli nos vocais, com seus cabelos loiros curtos e espetados e seus olhos verdes enigmáticos, Gilberto Loredo como guitar leader, cabelos negros encaracolados e olhos castanhos nada comuns, Sthephanie  Braccelli, a mulher de John, vocalista e guitarrista, uma loira exuberante de cabelos escorridos até a cintura, olhos azuis impossíveis, roupas colantes pretas e guitarra cor-de-rosa adornada com uma rosa vermelha-sangue, a japonesa Tonya Suziaki no contrabaixo, sempre com sua mini-saia branca e seu instrumento branco com  o símbolo japonês da paz em preto, o filho do famoso Tom “Bum” Bunker como baterista, Tom “Bunker” jr., cabelos pintados de azuis até os ombros e porte atlético, usando camiseta de renda preta; a deusa dos blues que entrara este ano no Única, no piano, teclados e vocais, a belíssima negra Suzette Dempsey; nos teclados e sax nada menos que o famoso chinês Lee Chang e seu bigodinho mágico, e finalizando a polêmica morena de olhos cinzas na percussão, que por muito tempo apresentara-se totalmente calva, Anna Catsmann.

Começaram de forma arrebatadora, a bateria de Tom jr. compassada com o baixo de Tonya e o piano ritmico de Suzette, na deliciosa “Tonight is the only Night”, onde John começou cantando rápido entoando o refrão “You‘re my girl forever, but only tonight”, e o público cantava junto berrando, algumas se descabelando, outras chorando e pulando, histéricas, os rapazes invejando John que se requebrava sensualmente no palco, com sua camiseta branca estampada com o símbolo da banda, o leão alado, e a calça de couro colada ao corpo exibindo uma mala considerável.

Emendou “Sweet Little Rock and Roller” com o sax de Lee e os riffs inalcançáveis de Gilberto em sua “Helena”, a famosíssima guitarra Fender Stratocaster negra com detalhes cromados. O final foi sensacional e Tom jogou as baquetas pelas costas enquanto o público berrava alucinado. John gritou um “thanks” e mandou beijos.

Com o público berrando “Única, Única!”, o ritmo diminuiu com o blues “Roadhouse In My Heart”, fazendo Suzette esmerilhar no piano em cima da voz às vezes grave às vezes aguda do sensacional John Braccelli, que logo cedeu a vez a um solo de guitarra bem blues de Sthephanie, que molhava a palheta na língua de modo muito sensual.

O público aplaudiu, gritando entusiasmado, o final da música, e John berrou um breve “Obrrigadu, thanks, muchas gracias” e começou a pop rock “Is There Something You Should Know”, na batida eletrônica e nas peripécias tecladistas de Lee, no piano elétrico assumido por Suzette, no baixo bem tocado de Tonya e Sthephanie fazendo com Anna o backing vocals. John dando pulos e andando por todo palco emendou “Hungry Like a Bear”, com o solo do baixo de Tonya fazendo o público aplaudir junto pulando sem parar, e finalizou a sequência com “Boys on Film”, o hino gay que de modo esperto John cantava já sem a camiseta, mostrando os músculos bem definidos e a barriga tanquinho. A platéia berrava o refrão de modo enlouquecido e a música acabou entre fogos e explosões.

Uma voz sintetizada disse “Única” bem lentamente enquanto o nome da banda aparecia nos telões, e os lasers verde-azulados entre o gelo seco tornaram a atmosfera densa.  John surgiu vestido com outra camiseta, desta vez toda vermelha, e calça jeans bem velha. Sthephanie veio com seu violão de estrelas e uma mini-saia brilhante, Gilberto, todo de terno e gravata, de volta com a “Helena” e o resto da banda com outras roupas exceto Tonya, que não mudava o visual branco. Iniciaram a linda e suave “Save a Little Prayer For My Soul”, com o compasso lento de Suzette ao piano acústico emoldurando a voz de John doce e serena. Traduzindo:

“Reze ao entardecer, reze ao amanhecer, reze uma pequena prece por minha alma, pois agora eu estou perdido, perdido entre incertezas, perdido entre drogas, perdido para sempre, mas eu ainda te amo, e não sei o que fazer”

As garotas, mulheres, garotos e homens choravam balançando seus isqueiros e celulares piscantes, rapazes pegavam-se cantando o refrão a pleno pulmões, o velho roqueiro bebendo mais uma cerveja, a garota quase desmaiando. Ao final a histeria era enorme. John logo começou outra romântica, “Where Are We Now?”, e em certo momento a banda parou de tocar e ele cantou sem apoio, com todos na platéia cantando com ele, e foi quando apenas regeu e cada um cantava com alegria no coração, lágrima nos olhos e sentindo que nada mais havia no mundo além daquele estádio, e nada mais importava além de estar ali com amigos cantando canções que te levavam ao prazer de um modo único.

Aplaudiram. Aplaudiam e gritavam e John  soltou um “Thank You, Obrigaaaaduuu Brazil!”. E esperou o público recuperar-se e acalmar-se.

Então, de costas para a platéia, gritou “One, Two...” e a banda começou “Modern Times” e ele “I Want to believe in love” no refrão, e finalizando a música entre berros “Let's live there is to live!”. Sensacional. Antes do público acalmar-se começou “House” cantando “First it was vertigo, like any passion...” deixando Gilberto fazer um longo solo de guitarra, e houve desmaios na platéia com seus riffs arrasadores. John cantava “Light on, waiting at the gate...” e o show seguia em uma alegria e gritaria geral, todos cantavam junto e conheciam todas as músicas, de álbuns fantásticos como “The Golden Shower” ou “A Little Beat from My Heart”.

O ápice estava chegando. Iniciando apenas com o baixo de Tonya, “Totally Numb” arrasou, mulheres se despiam, homens gritavam, desmaios e histerismo tomava conta do Morumbi. “Crawling Sensation” deixou todos possuídos, e cada vez que o refrão chegava, John deixava o público cantar. Todos estavam em uma união onde não havia brigas, ódio, preconceito, somente a música. Não havia religião, raça ou nação, eram apenas homens e mulheres cantando o amor, a vida, a paixão, o que fosse, mas todos estavam se sentindo como se algo realmente valesse a pena. John os fazia sentir assim.

Mais para o fim do show, a sensual “Pistol Of Love” terminou com John fingindo um orgasmo e molhando a platéia próxima com borrifos de água, ótimo refresco no terrível verão brasileiro. A histeria era completa. Uma garota conseguiu subir ao palco e agarrar John, tentando beijá-lo e sendo levada por seguranças enormes, esperneando.

Sthephanie brincou ao microfone, em português bem brasileiro, pois essa era a sua nacionalidade:

- Parem de agarrar o meu marido senão jogo minha guitarra em vocês, suas malucas! – E tirou vários acordes de sua Gibson cor-de-rosa. Começou então a cantar “Big Girls Don’t Cry” fazendo um cover da Fergie, e as garotas a acompanharam no refrão. John ria e pegava calcinhas jogadas no palco à la Wando, jogando-as de volta.

Quando Sthephanie finalizou e foi aplaudida com veemência, John aplaudiu também e depois foi até ela e a beijou na boca, tirando vaias das mulheres e aplausos dos homens.

- All right, fellows. All right. I’m very happy to see Morumbi totally full tonight. Thanks for coming! – John pulava como se estivesse sendo atacado por pulgas. Desceu a passarela embaixo do palco, próximo ao povo que tomava o lugar, e levou todos à loucura.

Começou com a explosiva “Highway Eternal” e no refrão quase se jogava ao público: “Nobody will ever reach me”, e então veio o solo de teclado de Lee, seguido do duelo fantástico de guitarras de Sthephanie com Gilberto. Uma parada e Tom jr. mostrou que herdara do pai o talento na bateria. A música deu uma acalmada e o público batia palmas acompanhando o bumbo de Tom, depois o baixo de Tonya, mais tarde Anna nos atabaques, tamboretes e bongôs, e um solo quase blues de Gilberto que foi em um crescendo até virar um rock sincopado, quando Sthephanie entrou gemendo com sua Gibson. Subitamente o ritmo novamente diminuiu e entrou o piano acústico conduzido por miss Suzette e em seguida a voz arrasadora e aveludada de John, que parecia falar direto ao coração das garotas, que caiam uma a uma, e até os garotos estremeceram.

Aumentou a velocidade da música até o refrão, e tudo foi crescendo, as exibições performáticas, as explosões e os lasers, até um final apoteótico da música executada com vários improvisos em deliciosos quinze minutos. Todos gritavam, aplaudiam, berravam, alucinavam.

A banda então despediu-se rapidamente e sumiu. O palco ficou escuro. Hora de comprar cerveja, fumar o que desse, relaxar, comentar o show, namorar. Mas logo estavam todos gritando “Parou porque, porque parou?” ou “Única, Única!” ou ainda “John, John, John!”. Os berros foram ficando cada vez maiores.

No backstage, John foi dar uma mijadinha, Sthephanie e as mulheres retocar a maquiagem e trocar de roupa, Gilberto beber um pouco de tequila, Tom arrancar um beijo de Anna. Verificaram o set list e combinaram de alterar a última música do bis.

A catarse foi geral quando John surgiu sozinho e ficou olhando sorrindo para a platéia. Disse serenamente: - For Those About The Rock, We Salute You. – E a gritaria foi ensurdecedora. E todos da banda entraram e executaram o som do AC/DC, que atordoava com arranjos de piano elétrico e teclado, duas guitarras e percussão. Ao final John pulava como louco: “Shout!” e um canhão laser emitia um pulso ao céu da noite estrelada e ao mesmo tempo fogos explodiam em várias cores, deixando todos boquiabertos. “Shout!” e novamente o Morumbi estremecia. “Shouuuutttt!” e John ficou apoplético de tanto gritar no final estonteante da música, e o estádio parecia vir abaixo!

A reação atordoante da platéia não foi pouca, mas John não perdoou e mandou “Sweet Child O’Mine” do Guns com Sthephanie como guitarrista solo e Gilberto pegando sua guitarra cinza e fazendo a rítmica. E para surpresa de todos, foi a própria Sthephanie que começou cantando. Cantava acompanhada da voz do público com sua guitarra cor-de-rosa, e John pulava como a um doido de um canto a outro do palco, e depois provocando as tietes andava rebolando pela passarela. Arrancou beijos de língua de fãs e uma maluca apareceu totalmente nua na passarela, levada se debatendo pelos seguranças guarda-roupa.

Depois do solo de guitarra, John e sua mulher cantaram juntos até o final, agraciados com berros histéricos e aplausos mil.

- Thank you, people, thank you so much!
- Obrigada! Obrigada, galeraaaaaaaaa!

E  John preparou a última da noite inesquecível.

Só ficaram ele e Sthephanie no palco. Ambos sentaram-se em banquinhos e pegaram violões. E começaram a cantar sincronizados sorrindo um ao outro. O público não se conteve. A música escolhida foi o sucesso máximo da banda, que parara de cantá-la por algum tempo pois o público entrava em um estado de histeria máxima e chegara a invadir o palco em vários shows anteriores.

Mas eles decidiram mesmo assim cantar “There is One Angel for Every One”

Todos cantaram juntos. Cada um, seja o vendedor de cerveja, os seguranças, o guardinha ajudante de palco, todos cantaram cada sílaba de cada estrofe da música perfeita, onde cada palavra tinha o sentido do todo e toda a melodia fazia cada um ali presente sentir-se especial, sentir-se protegido, e todos percebiam a presença avassaladora de alguém único, um Todo Poderoso para quem a música servia de comunicação.

 O final foi... Não existem adjetivos para qualificá-lo. Mas todos, todos mesmo, choravam e se abraçavam, e a banda fazia reverências debaixo de uma chuva de fogos enquanto a gritaria e os aplausos eram ensurdecedores.

Foi o maior show da banda mais famosa do planeta.



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Um conto Curto: Paraíso Perdido


Paraíso Perdido

A pequena nave desacelerou. Descrevendo um arco, desceu através da densa atmosfera daquele belo mundo até sua superfície. Pousou suavemente no interior do maior continente do planeta. Duas pessoas, bem equipadas e em trajes de segurança bastante reforçados, desceram pela rampa. Analisaram o lugar com pequenos aparelhos sensores.
        
O lugar onde estavam era como um imenso e maravilhoso jardim. Um relvado infinito estendia-se a perder de vista, bem cuidado. Flores de muitas cores abundavam. Árvores esparsas estavam carregadas de frutas das mais diversas matizes.

Aquele era o planeta que os terráqueos chamaram de Shangri-lá, e colonizaram com avidez, por suas qualidades visíveis. Mas o paraíso revelou-se traiçoeiro, e agora toda a população de colonos estava morta. Por quê?

Era o que aqueles dois cientistas vieram descobrir. Daijiro Sato e Collin McElis. Arriscaram suas vidas e desceram no pequeno planeta para saber o que matara oitocentas mil pessoas em questão de minutos.

         - Não há vírus ou qualquer outro agente contagiante na atmosfera, Collin.
        
         - A Equipe de Pesquisas da Deneva já tinha analisado todos os possíveis vírus ou outros seres microscópicos por aqui, Sato, sabe disso.

         - Foi apenas um comentário retórico, Collin. Resolvi conferir com meus próprios olhos.

         Analisaram pessoalmente, com o farto equipamento portátil que traziam, os corpos mais próximos, já em decomposição. Havia cadáveres espalhados por quilômetros naquela pequena vila de colonos. Não havia sinais de violência, não havia nada na comida que provocasse intoxicação, a atmosfera era melhor que a da Terra... E a pergunta persistia: do que morreram os colonos de Shangri-lá?

         - Captei algo estranho, Collin. Veja, o espectro aponta para o vermelho na faixa de neutrinos provenientes do sol deste planeta.

         - São apenas emissões comuns durante uma tempestade solar mais intensa... Neutrinos não tem massa, não podem interagir com um corpo... Mas, veja, observe a tela de monitoramente de radiação gama... Está nula... O planeta é perfeito! Veja o gráfico de composição atmosférica! Perfeita também! Shangri-lá é um paraíso completo, aquelas pessoas simplesmente não podiam ter morrido!

         Horas se passaram e os cientistas analisavam tudo o que podiam, e nada aparecia em seus sofisticados equipamentos que poderia dizer o que havia de errado no planeta. A nave-mãe de onde vieram, a Astronave de Pesquisas Deneva, entrou em contato. A resposta de Daijiro foi soturna:

         - Não encontramos nada, absolutamente nada, que possa ter exterminado uma população de oitocentas mil pessoas. Não há nada de errado com Shangri-lá! Os cadáveres estão tão sãos que era para todos levantarem, pularem e saírem dançando... Simplesmente não podem estar mortos!
         O Comandante da Deneva foi enfático:

         - Não é possível! Continuem pesquisando! Tem de haver uma resposta! McElis, Sato, estão me ouvindo?

         Mas não estavam. Ambos também caíram mortos.