Ricardo Vila Morazzi entrou na sala de aula tremendo. Não sabia se era de medo, pura insegurança ou nervosismo. Estava finalmente na faculdade!
Ele poderia ser chamado de nerd. Porém em1984 o mais comum era ser chamado de CDF. Magro, cabelos pretos desgrenhados - levemente encaracolados - e pequenos olhos castanhos, era muito, muito inteligente. Tinha o rosto anguloso porém não era feio... Nem tão bonito. A algazarra o incomodava, aquilo não se parecia uma sala de faculdade e sim uma sala de pré-primário, porque os rapazes jogavam bolas de papel uns nos outros e berravam enquanto garotas cochichavam entre si e davam risadinhas.
Nádia Bruna Oliveira entrou logo depois e parou na soleira da porta. Observadora sagaz, também achou o mesmo que Ricardo. Escolheu uma carteira solitária em um canto da classe e se encolheu, para tentar não ser vista. Muito abaixo do peso ideal, tímida e de pele muito branca, olhos verdes e cabelos cor do trigo, óculos enormes, não queria ser notada. E mesmo sendo uma excelente observadora, não notou Ricardo que se sentou na carteira ao lado. De qualquer forma Ricardo Morazzi era quase sempre invisível socialmente. E Nádia também.
A bagunça naquela classe do primeiro ano de Análise de Sistemas da ICCA ainda não havia parado quando Andressa Melina entrou. Então parou. A bagunça, não ela. Andressa. Um nome muito usado por travestis atualmente mas não em 1984. E ela não era um travesti, era uma linda garota - uma linda mulher - e, usando um belo clichê, na flor da idade, maravilhosa em seus 20 anos bem vividos. Seus cabelos castanhos claros caíam em cascatas sobre seus ombros desnudos (olha aí outro clichê), e seus olhos cinza-azulados refletiam uma inteligência fora do comum, enquanto seus lábios carnudos remetiam a Angelina Jolie. O nariz, sempre empinado, era fino e pequeno. Seu corpo era escultural (mais um clichê) e sua bunda - empinada como o seu nariz - era nada mais que perfeita. Enfim, a garota dos sonhos de qualquer um que gostasse de mulher.
Sob os olhares calados não só da população masculina daquela classe, mas também da feminina que transbordava inveja – exceto por uma asiática simpática que, bem, parece que a admirava como os rapazes – ela escolheu uma carteira vazia bem no centro e na frente da sala, aprumou-se, deu uma olhada geral em todos e, sorrindo com dentes cintilantes (será mais um clichê?), sentou-se organizando suas coisas.
Karina Fernanda Dias foi a próxima a entrar, totalmente distraída, com a mente em outro mundo. Nem reparou que a bagunça retornara, com os veteranos que fingiam ser novatos disputando a atenção de Andressa. Nem reparou no pé estendido de uma veterana com cara de má, tropeçou e caiu. Pesando alguns quilos a mais do que deveria, caiu pesadamente no chão (outro clichê?) e seus desenhos espalharam-se pela sala.
Belos desenhos. Eróticos. Guerreiras semi-nuas lutando com espadas e escudos contra monstros peludos com falos enormes. Eram impressionantes. Os desenhos, não os falos. Ricardo logo pulou de sua carteira porém, ao invés de ajudar Karina a levantar-se, foi recolher os desenhos, deixando Andressa sacudindo a cabeça e ajudando – desculpe-me ser politicamente incorreto – a gordinha a colocar-se de pé.
(e segue... Estou desenvolvendo o texto ainda)...
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