O Guardião da Lua
Em uma aldeia em algum
lugar da Galícia, em plena Idade Média, morava uma mulher muito bonita e
inteligente chamada Igraine. Independente, vivia às turras com o marido brigão
que não conseguia domá-la. Um casamento arranjado. De tanto que Igraine se indispôs
com seu cônjuge que ele se encheu e inventou mentiras sobre ela ao Conde
Bartiüs, que mandava e desmandava no vilarejo.
Acusada injustamente de
bruxaria, foi condenada à fogueira. Os habitantes daquela aldeia esquecida pareciam
se divertir com isso, e a agarraram em sua casa e a arrastaram do jeito que
estava para enorme pilha de madeiras que havia no cento do vilarejo. Seu
marido, Dardüs, ria de prazer sádico.
Ela foi amarrada à
estaca no meio da pilha e homens encapuzados apareceram com archotes para
iniciar a fogueira. Mesmo diante da morte ela era dona de si e permanecia calma,
embora interiormente estivesse aterrorizada pelo que estava para acontecer.
- Matem, queimem a
bruxa! – Diziam os habitantes ensandecidos da aldeia.
No instante em que o
fogo foi aceso e Igraine se encolheu toda, um estranho cavaleiro surgiu do
nada. Montava um cavalo negro maior que qualquer cavalo que qualquer um já vira
e trajava estranhos trajes, além de uma máscara prateada que lhe cobria toda a
face. Sua capa negra era agitada pelo vento daquela noite sombria. Desmontou do
cavalo lentamente e seus um metro e noventa de altura deixaram mudos os
habitantes da cidadezinha, além do Conde Bartiüs e Dardüs.
Os homens e mulheres que
assistiam a execução de Igraine afastavam-se à medida que o estranho cavaleiro
passava, até que se aproximou da fogueira. Ergueu a mão e um raio de luz azul
extinguiu as chamas.
Todos estavam
abismados, inclusive Igraine.
- Bruxaria! Peguem o
bruxo! Matem-no! – Gritou Dardüs.
Mas quando os carrascos
e os soldados do Conde avançaram sobre o cavaleiro, ele apenas fez um sinal com
as mãos, arremessando todos para longe.
Ninguém mais se atreveu
a intervir enquanto o cavaleiro subia pela pilha de madeiras e libertava
Igraine. Tomou-a em seus braços e a levou para o seu cavalo. Todos estavam
mudos. Dardüs ainda tentou uma reação, mas o cavaleiro apenas olhou para ele e
o fez tombar de joelhos, tremendo e gritando de dor.
Com Igraine à sua
frente, o cavaleiro cavalgou alguns metros e o cavalo começou a subir e criar
asas, tal qual um pégaso.
- Quem... Quem é você? –
Os longos cabelos loiros de Igraine esvoaçavam com o vento enquanto atingiam as
nuvens esparsas e a Lua cheia iluminava a noite de forma magnífica.
Ele apenas fez sinal de
silêncio com o dedo diante da boca e continuaram a subir.
Repentinamente uma névoa
forte os engolfou. Um forte brilho azul os envolveu. Quando emergiram estavam em
uma cidade vazia e em ruínas, que flutuava nos céus acima de uma nuvem negra
que parecia sólida. Relâmpagos faziam brilhar as colunas em pedaços e o mármore
do chão estava todo riscado.
O cavaleiro tirou a
máscara prateada e sorriu. Seus cabelos eram grisalhos e seus músculos bem definidos.
Seus olhos castanhos eram fortes e penetrantes. Igraine o encarou surpresa, ela
mesma lindíssima, olhos verde-jade e lábios convidativos.
- Sou Émer, o último
dos Guardiães da Lua. Nossa cidade foi destruída por... Não importa. O fato é que
vi o que houve lá embaixo, em sua aldeia. Como podem querer executar uma garota
tão linda como você?
- São ignorantes. Tudo
que não entendem é bruxaria. Obrigada por me salvar, eu... Eu nunca mais vou
querer voltar àquela aldeia.
Ele sorriu.
- Não a levarei de
volta, princesa. Como é seu nome?
- Igraine. – Ela olhou
em volta. – Você mora aqui?
- Sim. É uma longa
história, que não quero lhe contar agora, haverá tempo para isso depois. Eu a
salvei porque a quero como minha amante.
Ela olhou-o de olhos
arregalados. Ia dizer alguma coisa, mas ele tapou-lhe a boca.
- Não existe mais
ninguém da minha espécie. Antes que fale, quero que saiba que é livre para ir
embora, e eu a levarei para onde você quiser.
Destapou-lhe a boca.
Ela apenas o observou por um longo momento. Depois olhou para baixo, não dava
para ver nada na escuridão da noite, além das nuvens e relâmpagos.
Voltou a olhá-lo. Mediou
de cima abaixo.
- Eu não tenho mais
nada nesse mundo, mas... As coisas estão indo rápidas demais, não acha? Você me
salvou da morte horrível de ser queimada viva e é lindo... Porém pode ser pior
que meu marido lá embaixo.
- Isso você descobrirá
com o tempo. O que posso dizer-lhe é que tenho pressa. Estou morrendo. Minha
espécie não vive mais que vinte anos. Meu tempo está acabando. Não tenho mais
que um mês de vida.
Igraine mordiscou o
lábio, assustada. Estava certo que aquele cavaleiro era maravilhoso e a
salvara, porém entregar-se a ele sabendo que ele morreria em um mês...
- E então? Quero que me
ajude a salvar minha linhagem. Mesmo mestiço, nosso filho carregará minha
herança.
- E depois? O que será
de mim?
- Se aceitar minha
oferta, terá a riqueza de meu povo. E será acolhida pelos zereus, um povo
aliado. Será uma rica rainha. Por favor, seja minha amante, nem que seja por
apenas uma noite e nada mais.
Ela o encarou e ficaram
em silêncio por um tempo que parecia infinito.
- Está bem. Serei sua
amante. Mas será por uma noite. Cuidarei de seu herdeiro – ou herdeira – você me
salvou a vida e lhe devo isso.
Émer foi muito
romântico. Candelabros iluminaram uma refeição saborosa regada a vinho. Ele era
divertido, contava piadas, e dizia coisas que ela sempre quis ouvir, que seu
próprio marido jamais lhe dissera. Não tardou para que se apaixonassem, em tão
pouco tempo. O primeiro beijo deixou ambos enebriados.
Quando ele a despiu,
ela sentiu-se um pouco envergonhada, porém ele logo a deixou a vontade. Ele era
hábil e Igraine sentiu coisas que nunca sentira na vida. Beijavam-se com
vontade. Amaram-se no início lentamente, sem pressa, porém logo faziam amor de
forma exuberante, em todas as posições, e Igraine simplesmente estava nas
nuvens, embora literalmente estivesse realmente nas nuvens.
Quando amanhecia e os
raios solares entravam enviesados pelas enormes janelas do quarto luxuoso –
embora em ruínas – de Émer, eles finalizaram o jogo de amor e se entregaram a
um sono profundo.
Nos dias que se
seguiram apenas comiam quando lhes dava fome, bebiam quando lhes dava sede,
riam lendo manuscritos, cantavam e se amavam. Faziam amor em todos os quantos
da cidade, de todos os jeitos, se beijavam, se abraçavam, contavam histórias
maravilhosas um para outro.
Eles viviam. Apenas os
dois. Faziam o que gostavam. E faziam amor.
Tempos depois, as
regras de Igraine atrasaram. Ela correu procurar Émer, não se continha de
felicidade. Estava grávida!
Contudo, apenas
encontrou uma carta;
“Chegou a minha hora. Mas não chore, minha rainha. Cuide bem de nosso
filho. E, agora que aprendeu a viver, viva intensa cada momento. Nascemos para
sermos felizes. Faça o que gosta. Viva! Deixe para trás tudo que lhe estraga a
alma, esqueça tudo que lhe traga infelicidade e viva! Eu sempre te amarei e te
esperarei na Eternidade, e quando chegar a hora juntar-se-á a mim para todo o
sempre”
Belo texto! Muito lindo o conto!
ResponderExcluirhá um grande aviso nas entrelinhas para maridos chatos... hahaha... ai quando aparece um cavaleiro, já era! rsrsrs... só é pena que ele morreu.
Parabéns! Você é sensacional!
Que lindooooooooo! Adorei, super fofo!
ResponderExcluirParabéns!
Estão vendo homens?!É possível ser fofo.
Ah, que lindo Vitor! Amei o conto. Está de parabéns. Eu teria terminado de uma forma diferente. Ela teria descoberto um ritual antigo q permitia unir a vida dele à do filho e assim salvado o amor dela rs mas isso pq eu sou romântica até a medula rs.
ResponderExcluirMas tragédias românticas são lindas, adorei. Agora, mais do que nunca, quero ler seu livro. Um abraço!