Halloween
Era
uma noite quente de 31 de Outubro e eu sabia que era Halloween, bem, pelo menos
nos Estados Unidos, porque – dizem – no Brasil é o Dia do Saci.
Não importa, o
fato é que eu, sozinho em meu apartamento – ah, sim, A Carla me deixou e desde
então vivia sozinho – liguei a TV para ver qualquer porcaria.
Estava
um calor dos infernos e liguei o ventilador vendo um filme de terror, não me
lembro direito o nome, algo como “A Morte Lhe Espera” ou “A Morte Te Pegou” ou
qualquer coisa assim.
No exato momento que o Serial Killer – e eu comendo
flocos de milho velho, esse sim, um verdadeiro Cereal Killer – ia esfaquear a
mocinha burra – sim, burra porque foi em um beco escuro sozinha à meia noite,
só podia ser burra mesmo – bem, como eu ia dizendo, no exato momento que o
assassino ia esfaquear a garota, eu tenso, tocou a campainha e voou cereal por toda
sala no susto que tomei.
Levantei,
mais bravo que touro espetado em touradas, abri a porta e um pirralho com
cabeça de abóbora ergueu um saco preto:
-
Gostosuras ou Travessuras?
-
Ah, vai se catar.
Bati
a porta.
Mas que melda! Bela tradição
americana, esse Halloween, e os brasileiros, que só gostam mesmo é de festas,
aproveitam. Bom, voltei a atenção ao filme. Agora o Serial Matador ia esfaquear
outra burrinha quando de novo tocou a campainha. Boska!
Abri
já preparado para uns berros quando notei que a fantasia do garoto era muito
bacana. Um verdadeiro monstro gosmento.
-
Gostosuras ou Travessuras?
Achei
tão bacana a fantasia que fui pegar uma barra de chocolate – tão velha que a
validade devia ser nos anos sessenta, mas garotos assim nem percebem – e entreguei
para ele. Ele tirou a máscara e sorriu:
-
Brigado, Tio!
Saiu
comendo. Fechei a porta dando risada e voltei para o meu filmeco de terror. Mas
nem bem eu sentei e de novo a maldita campainha.
E
assim foi a noite toda, só acalmando lá pelas vinte e duas. Acho que toda a
criançada do meu prédio veio pedir doces, mas eu só tinha dado aquele chocolate
para o gordinho da fantasia de monstro. Que encheção de saco!
Tomei
uma ducha fria para aliviar o calor estonteante e fui dormir, mas enquanto
tirava a roupa, tocou de novo a campainha. Puto da vida, vesti a calça e fui abrir
a porta. Era o garoto com a fantasia de monstro de novo.
-
O que você quer, pentelho, já não te dei um chocolate hoje?
-
Sua alma.
-
Ah, vai te catar.
Bati
a porta e tranquei. Que moleque idiota e atrevido!
Fui
deitar, deitei e no que virei, a luz da lua cheia entrava enviezada pela
persiana do quarto. Sorri, começando a pegar no sono... Quando notei uma sombra
passar pela janela.
Passou de novo. Como? Levantei a persiana, só a bela lua e
estrelas no céu. Abri a janela e olhei... Dez andares e nada mais... Devo estar
sonhando... No que fechei a janela, senti algo atrás de mim no quarto e me
arrepiei.
Virei
devagar com o coração acelerado. Nada... Fui ao banheiro, acendi a luz e joguei
água no rosto, devo estar ficando doido, pensei, mas quando me enxuguei vi de
relance alguém através do espelho. Virei-me depressa, o coração saindo pela
boca...
Peguei
o rodo que ficava ali no banheiro e saí devagar... O quarto na penumbra,
parcamente iluminado pela lua cheia. Percebi que tremia. Um barulho veio da
sala.
Corri
para a sala. A TV estava ligada sem sintonizar nenhum canal, sem som. Como? Não
sei. Com o rodo em mãos, olhei para os chuviscos na tela. Dei um pulo para trás
quando um filme preto e branco surgiu.
Caí
sentado no sofá, suspirando mais aliviado. Devia ser apenas obra da minha
cabeça, pensei. Estava sozinho há tanto tempo que estava ficando doido.
O
filme era estranho. Era uma sala com um cara sentado e... Mas, puxas que
partiu, era eu... Minha sala, eu, meu sofá! Arrepiado até o fundo da alma,
levantei e peguei o rodo. Olhei em volta. Meu Deus, o que é isso?
Tudo
o que eu fazia acontecia no filme, mas era como a câmera estivesse na TV, era o
ponto de vista da TV! Cruzes! Mesmo de cueca, decidi fugir, fui até a porta da
frente e no que abri estava lá o gordinho de fantasia de monstro.
-
Quero sua alma. - Repetiu, com aquela voz de criança.
Bati
a porta da frente, com o coração pulando em meu peito, encostado de costas para
ela. Segurei forte o rodo. E eu de cueca! A TV apagou.
Ouvi
um barulho na cozinha. Fui, pé-ante-pé, até lá. O microondas estava funcionando
sozinho. Deu o sinal e apagou. Fui até ele e quando abri a porta eu vi... Bom,
dei um berro que era para ter acordado o prédio todo. Minha cabeça estava lá
dentro, toda estraçalhada. Mesmo assim eu me reconheci.
Berrando
como louco, na verdade com um medo que jamais senti antes, fui em direção a
porta da frente, a abri de supetão, decidido a passar por cima do gordinho, mas
saí mesmo em um lugar lúgubre.
De
cueca e rodo na mão, olhei em volta, incrédulo. Abracei o rodo. Onde, porta que
partiu, eu estava!?
Era
o mesmo beco escuro onde vi, naquele filmeco de terror, a garota burra ser
esfaqueada. Foi quando olhei para a lixeira e vi o Serial Killer. O mesmo do
filme! E ele vinha em minha direção! Socorro! Juro que gritei como um bebê desmamado!
Larguei
o rodo e saí correndo e quando me dei conta era uma tarde estranha.
O céu
estava laranja! O silêncio era terrível, nem uma mosca voava... E eu reconheci
as ruínas em torno da rua esburacava onde eu estava.
Uma
melda de um filme de zumbi que vira no dia anterior... E eles apareceram.
Zumbis de todos os lados. Corpos putrefatos, braços caindo, cabeças viradas em
ângulos impossíveis!
Corri
como louco, e entrei em um túnel escuro. Uma bruxa horripilante surgiu do nada com sua
vassoura. De seu rosto desfigurado escorria uma gosma nojenta e tinha verrugas
imensas.
-
Vou transformar você em um rato e comê-lo, seu idiota!
Chorando
como uma mulher traída, encolhi-me todo e quando me dei conta estava em cima de
uma árvore.
-
Pare, senhor! Pare!!! Desça daí!
-
Hã, o quê...? – Foquei os olhos e era o Síndico.
-
Para de gritar! Você está gritando como louco, alucinado, de cuecas ridículas
em cima de uma árvore do jardim do nosso prédio! Ficou maluco, é?
-
Como? Como eu vim parar aqui?
-
E eu sei?
-
Eu sei, seu filho de uma égua!
Era
o meu vizinho médico que falava.
-
Você comeu cereais de milho vencidos e mofados, seu idiota! O mofo fez você ter
alucinações! Que viajem, hein? Eu fui reclamar por você ter dado chocolate
estragado para o meu filho, que está vomitando até agora, e encontrei esses
flocos que estava ingerindo, seu imbecil!
Eu
apanhei. Não só do médico como de umas senhoras do prédio, e saí de cueca
correndo pela rua, perseguido por uma delas...
Mas
ela não queria me bater. A senhora de sessenta anos me abraçou.
-
Ai, filho, você é tão gostoso... Venha para minha casa que cuido bem de você...
Vou te alimentar bem, te dar cama, comida e amor.
Porque
não? Estava sozinho há tanto tempo...
E
fui... Por isso agora sou apenas um fantasma A danada era mesmo uma bruxa –
elas existem! - e fez um ensopado comigo...
Esse texto foi psicografado
por Matheus Borgalem Beretto para o escritor-místico Vitor Hugo B. Ribeiro
-
Nossa! Vejo que esse calor todo te inspirou, hein!
ResponderExcluirAdorei os "palavrões" e fiquei com medo da parte dos zumbis... rs...
Mais um conto genial. Parabéns!
Olá amei a estoria e olha que não costumo ler textos grandes pelo computador, mas essa foi boa eu não sabia se ria ou me compadecia do personagem rsrs
ResponderExcluirbjos