Rogério
era um bombeiro de mau com a vida. Naquela semana de chuvas ininterruptas,
Rogério havia batido o carro, brigado com a noiva e, pior de tudo, fora assaltado
por um adolescente. Estava agora indo resgatar uma família de debaixo de um rio
de lama, que soterrara seu barraco. Em meio a chuva forte, Rogério entrou nos
escombros do casebre. Toda a família estava morta, exceto um rapaz. Ele clamava
por sua vida, porém Rogério hesitou. Ele reconheceu o adolescente como sendo o
que o roubara na noite anterior. "Maldito", pensou. "Não vou
salvar este miserável. Ele perdeu a família, e é um ladrãozinho. Não merece
perdão! Que morra!".
Contudo,
forçou-se a resgatar o rapaz. Não conseguiria viver em paz com sua consciência
se não o fizesse. E o salvou. Ele agradeceu muito, entre lágrimas.
Anos
se passaram, e Rogério havia deixado a Corporação e dedicara sua vida à outras
atividades. Casara-se, tivera filhos e aposentara-se. Seu filhos eram sua vida,
dois belos rapazes. E tinha uma casa modesta onde todos viviam, e cujo destino
era incendiar-se. Durante o incêndio tentou salvar seus filhos, mas não havia
como... Ele era velho, e eles estavam presos no quarto. "Vou perder meus
filhos! Meu Deus, me ajude, não deixe que eles morram!". Alguém chamara o
Corpo de Bombeiros, mas estava impossível chegar até o quarto. Um homem,
entretanto, aventurou-se a enfrentar as chamas. Era um bombeiro valoroso,
pensou Rogério. Aquele homem arriscou sua vida, queimou-se, mas salvou os dois
filhos de Rogério, que agradeceu-lhe imensamente.
"Não
se lembra de mim, velho homem?", perguntou o salvador.
"Não,
rapaz".
"O
senhor era bombeiro e resgatou-me do soterramento de meu barraco. E olhe que eu
havia assaltado o senhor um dia antes! Quando salvou-me, decidi entrar para a
Corporação... E estava de folga hoje, mas por acaso ouvi o chamado deste
incêncio e decidi vir ajudar... Foi Deus quem me trouxe aqui. Agora eu retribuí
o seu perdão".
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