quarta-feira, 31 de outubro de 2012


Halloween


Era uma noite quente de 31 de Outubro e eu sabia que era Halloween, bem, pelo menos nos Estados Unidos, porque – dizem – no Brasil é o Dia do Saci. 

Não importa, o fato é que eu, sozinho em meu apartamento – ah, sim, A Carla me deixou e desde então vivia sozinho – liguei a TV para ver qualquer porcaria.

Estava um calor dos infernos e liguei o ventilador vendo um filme de terror, não me lembro direito o nome, algo como “A Morte Lhe Espera” ou “A Morte Te Pegou” ou qualquer coisa assim. 

No exato momento que o Serial Killer – e eu comendo flocos de milho velho, esse sim, um verdadeiro Cereal Killer – ia esfaquear a mocinha burra – sim, burra porque foi em um beco escuro sozinha à meia noite, só podia ser burra mesmo – bem, como eu ia dizendo, no exato momento que o assassino ia esfaquear a garota, eu tenso, tocou a campainha e voou cereal por toda sala no susto que tomei.

Levantei, mais bravo que touro espetado em touradas, abri a porta e um pirralho com cabeça de abóbora ergueu um saco preto:

- Gostosuras ou Travessuras?

- Ah, vai se catar.

Bati a porta.

Mas que melda! Bela tradição americana, esse Halloween, e os brasileiros, que só gostam mesmo é de festas, aproveitam. Bom, voltei a atenção ao filme. Agora o Serial Matador ia esfaquear outra burrinha quando de novo tocou a campainha. Boska!

Abri já preparado para uns berros quando notei que a fantasia do garoto era muito bacana. Um verdadeiro monstro gosmento.

- Gostosuras ou Travessuras?

Achei tão bacana a fantasia que fui pegar uma barra de chocolate – tão velha que a validade devia ser nos anos sessenta, mas garotos assim nem percebem – e entreguei para ele. Ele tirou a máscara e sorriu:

- Brigado, Tio!

Saiu comendo. Fechei a porta dando risada e voltei para o meu filmeco de terror. Mas nem bem eu sentei e de novo a maldita campainha.

E assim foi a noite toda, só acalmando lá pelas vinte e duas. Acho que toda a criançada do meu prédio veio pedir doces, mas eu só tinha dado aquele chocolate para o gordinho da fantasia de monstro. Que encheção de saco!

Tomei uma ducha fria para aliviar o calor estonteante e fui dormir, mas enquanto tirava a roupa, tocou de novo a campainha. Puto da vida, vesti a calça e fui abrir a porta. Era o garoto com a fantasia de monstro de novo.

- O que você quer, pentelho, já não te dei um chocolate hoje?

- Sua alma.

- Ah, vai te catar.

Bati a porta e tranquei. Que moleque idiota e atrevido!

Fui deitar, deitei e no que virei, a luz da lua cheia entrava enviezada pela persiana do quarto. Sorri, começando a pegar no sono... Quando notei uma sombra passar pela janela. 

Passou de novo. Como? Levantei a persiana, só a bela lua e estrelas no céu. Abri a janela e olhei... Dez andares e nada mais... Devo estar sonhando... No que fechei a janela, senti algo atrás de mim no quarto e me arrepiei.

Virei devagar com o coração acelerado. Nada... Fui ao banheiro, acendi a luz e joguei água no rosto, devo estar ficando doido, pensei, mas quando me enxuguei vi de relance alguém através do espelho. Virei-me depressa, o coração saindo pela boca...

Peguei o rodo que ficava ali no banheiro e saí devagar... O quarto na penumbra, parcamente iluminado pela lua cheia. Percebi que tremia. Um barulho veio da sala.

Corri para a sala. A TV estava ligada sem sintonizar nenhum canal, sem som. Como? Não sei. Com o rodo em mãos, olhei para os chuviscos na tela. Dei um pulo para trás quando um filme preto e branco surgiu.

Caí sentado no sofá, suspirando mais aliviado. Devia ser apenas obra da minha cabeça, pensei. Estava sozinho há tanto tempo que estava ficando doido.

O filme era estranho. Era uma sala com um cara sentado e... Mas, puxas que partiu, era eu... Minha sala, eu, meu sofá! Arrepiado até o fundo da alma, levantei e peguei o rodo. Olhei em volta. Meu Deus, o que é isso?

Tudo o que eu fazia acontecia no filme, mas era como a câmera estivesse na TV, era o ponto de vista da TV! Cruzes! Mesmo de cueca, decidi fugir, fui até a porta da frente e no que abri estava lá o gordinho de fantasia de monstro.
- Quero sua alma. - Repetiu, com aquela voz de criança.

Bati a porta da frente, com o coração pulando em meu peito, encostado de costas para ela. Segurei forte o rodo. E eu de cueca! A TV apagou.

Ouvi um barulho na cozinha. Fui, pé-ante-pé, até lá. O microondas estava funcionando sozinho. Deu o sinal e apagou. Fui até ele e quando abri a porta eu vi... Bom, dei um berro que era para ter acordado o prédio todo. Minha cabeça estava lá dentro, toda estraçalhada. Mesmo assim eu me reconheci.

Berrando como louco, na verdade com um medo que jamais senti antes, fui em direção a porta da frente, a abri de supetão, decidido a passar por cima do gordinho, mas saí mesmo em um lugar lúgubre.

De cueca e rodo na mão, olhei em volta, incrédulo. Abracei o rodo. Onde, porta que partiu, eu estava!?

Era o mesmo beco escuro onde vi, naquele filmeco de terror, a garota burra ser esfaqueada. Foi quando olhei para a lixeira e vi o Serial Killer. O mesmo do filme! E ele vinha em minha direção! Socorro! Juro que gritei como um bebê desmamado!

Larguei o rodo e saí correndo e quando me dei conta era uma tarde estranha. 

O céu estava laranja! O silêncio era terrível, nem uma mosca voava... E eu reconheci as ruínas em torno da rua esburacava onde eu estava.

Uma melda de um filme de zumbi que vira no dia anterior... E eles apareceram. Zumbis de todos os lados. Corpos putrefatos, braços caindo, cabeças viradas em ângulos impossíveis!

Corri como louco, e entrei em um túnel escuro.  Uma bruxa horripilante surgiu do nada com sua vassoura. De seu rosto desfigurado escorria uma gosma nojenta e tinha verrugas imensas.

- Vou transformar você em um rato e comê-lo, seu idiota!

Chorando como uma mulher traída, encolhi-me todo e quando me dei conta estava em cima de uma árvore.

- Pare, senhor! Pare!!! Desça daí!

- Hã, o quê...? – Foquei os olhos e era o Síndico.

- Para de gritar! Você está gritando como louco, alucinado, de cuecas ridículas em cima de uma árvore do jardim do nosso prédio! Ficou maluco, é?

- Como? Como eu vim parar aqui?

- E eu sei?

- Eu sei, seu filho de uma égua!

Era o meu vizinho médico que falava.

- Você comeu cereais de milho vencidos e mofados, seu idiota! O mofo fez você ter alucinações! Que viajem, hein? Eu fui reclamar por você ter dado chocolate estragado para o meu filho, que está vomitando até agora, e encontrei esses flocos que estava ingerindo, seu imbecil!

Eu apanhei. Não só do médico como de umas senhoras do prédio, e saí de cueca correndo pela rua, perseguido por uma delas...

Mas ela não queria me bater. A senhora de sessenta anos me abraçou.

- Ai, filho, você é tão gostoso... Venha para minha casa que cuido bem de você... Vou te alimentar bem, te dar cama, comida e amor.

Porque não? Estava sozinho há tanto tempo...                          

E fui... Por isso agora sou apenas um fantasma A danada era mesmo uma bruxa – elas existem! - e fez um ensopado comigo...


Esse texto foi psicografado por Matheus Borgalem Beretto para o escritor-místico Vitor Hugo B. Ribeiro


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2 comentários:

  1. Nossa! Vejo que esse calor todo te inspirou, hein!
    Adorei os "palavrões" e fiquei com medo da parte dos zumbis... rs...
    Mais um conto genial. Parabéns!

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  2. Olá amei a estoria e olha que não costumo ler textos grandes pelo computador, mas essa foi boa eu não sabia se ria ou me compadecia do personagem rsrs

    bjos

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